13/06/2020

Hoje eu descobri que estou morta...

Sempre me perguntei como era estar morta,
Não a morte em que nunca mais acordamos e nem respiramos, apesar de muito dolorida essa parece a mais fácil...
Me pergunto como é estar morta por dentro...

Eu sempre me considerei uma garota alegre,

De verdade, eu sempre me permiti tentar ser feliz,
Um tipo de garota que tenta ver sempre o melhor lado da pior situação,
Aquela que colore o céu quando ele está cinza e sem cor,
Sou a amiga ouvinte, que dá conselhos e soluções para os problemas alheios,
Sou a filha compreensiva, que escuta e obedece, que está ali lado a lado para o que der e vier,
Sou a "namorada" fiel, leal e mais uma vez compreensiva,
Sou a garota que gosta de gente,
Aquela que puxa papo com algum estranho na fila do mercado, 
Aquela que adora conversar sobre qualquer assunto, mesmo que não entenda absolutamente nada do que estão dizendo,
Aquela que adora uma balada, um bebedeira no fim de semana,
Aquela que faz reunião na casa dos amigos para jogar conversa fora,
Aquela que gosta de trabalhar, de pegar ônibus, metrô ou trem (mesmo ficando perdida nas estações)
Aquela que nunca chega atrasada no trabalho e sempre vai embora depois do horário,
Mas eu sou o tipo de garota que nunca aceitou demonstrar fraqueza, 
Que nunca permite contar os seus problemas e angústias,
Aprendi a guardar para mim, 
Me obriguei a ser forte e enfrentar o mundo de cabeça erguida,
Afinal, eu sou a garota feliz e alegre que está sempre ao redor de todos.
Hoje eu descobri que estou morta a dois meses,
Ou eu sempre estive e nunca me permiti descobrir?
No primeiro mês de "quarentena", desse momento caótico que estamos vivendo, eu mantive a minha fé,
Como sempre, estava com o sorriso no rosto e confortando a todos ao meu redor, 
Afinal, eu sou esse tipo de garota,
Andava para lá e para cá com a minha esperança de tudo passaria logo, de que eu iria voltar melhor do que eu já tentava ser,
Ficava extremamente feliz em dizer que logo estaria abraçando a todos que amo,
Que iria voltar a ver meu amigos, programar viagens e baladinhas,
Eu mantinha essa fé, pois isso me mantinha em pé e alegre como sempre,
Mas isso não passou logo e minha fé foi embora, me deixou de mãos abanando,
A cada dia que passa eu entro e afundo mais em mim, eu não quero saber do mundo lá fora,
Eu não sinto mais vontade de abrir meus olhos e continuar respirando,
Me sinto um poço sem fundo, escuro e completamente vazio,

Nem água parada com mosquitos habitam esse poço,
Eu não sinto mais vontade de que isso passe logo, não quero mais encontrar meu amigos, nem ir para a faculdade e muito menos ir trabalhar,
E nem quero mais esse esforço de batalhar
por um sorriso,
Acho que isso é morrer,
Não sinto mais medo, angústia ou felicidade,
Apenas vejo os minutos, as horas e os dias passando, sem nenhuma pressa, 
A garota alegre, sorridente e positiva não existe mais,
Ela morreu há muito tempo e eu descobri somente hoje, tarde demais para tentar reanimá-la

Texto de autoria própria,
Gabrielle Garcia